Por Fernando Boppré* e Ricardo Machado** Extremistas de carteirinha continuam pregando ódio impunemente.

Sobre ter participado do crime de incendiar a Livraria Anita Garibaldi, após o Golpe Civil-Militar de 1964, provocado por extremistas conservadores, Nereu do Vale Pereira declarou em 04/06/2023, último domingo, no jornal Notícias do Dia (ND) e o portal ND Mais:
“[…] eu participei para fazer discursos antes do ataque à livraria, onde se reuniam pessoas que defendiam as teorias ditatoriais de esquerda. Comecei o discurso, para criar o ambiente, e um colega nosso, ex-comunista, deu início ao incêndio dos livros. São embates políticos e ideológicos que deixam marcas, mas que não duram a vida toda. No entanto, eu faria tudo de novo”.
Pessoas como Nereu do Vale Pereira só se sentem à vontade para se declararem assim, sem qualquer remorso, porque seus crimes não foram julgados. Assim como os agentes do Estado brasileiro que torturaram, mataram e perseguiram pessoas, ele e os outros que fizeram parte desta turba extremista nunca responderam criminalmente pelos seus atos. Só por sua impunidade de ontem que hoje, às claras, em pleno jornal de domingo, pessoas como Nereu do Vale Pereira são capazes de vilipendiar a memória, justificando a destruição de um dos mais relevantes espaços de cultura da década de 1960, frequentada por artistas e livre-pensadores(as) de todo o Brasil.
É lamentável que um sócio emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, membro de dezenas de instituições históricas e culturais, venha a público, em uma entrevista jornalística, manifestar que NÃO SE ARREPENDE DE TER ATEADO FOGO AOS LIVROS DA LIVRARIA ANITA GARIBALDI.
Ainda é preciso destacar que dentre os absurdos que Nereu do Vale Pereira destilou em entrevista publicada no ND de ontem, encontra-se: “As discussões sobre o Contestado são mero saudosismo”. Ele, apesar de se intitular historiador, desconsidera a necessidade de permanente discussão sobre os acontecimentos do passado, sob a ótica de novos documentos e novas interpretações.
*Fernando Boppré é historiador e escritor **Ricardo Machado é historiador e professor da Universidade Federal da Fronteira Sul
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