Nunca esteve tão na moda o ditado popular: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. A isso chamamos de Hipocrisia, o mal da atualidade. Ou seria de sempre? Em certas culturas este comportamento é mais evidente que em outras. Mas no Brasil, a impressão que se tem é que este processo “já vem de fábrica”, ou seja, passa de pai para filho, tal qual a genética, seja ela boa ou ruim. Não importa a classe social, a raça, a idade e parte do país onde nasceu. Cada um sofre em maior ou menor grau da chamada Hipocrisia Epidêmica.
Talvez o caso mais clássico a ser observado é dentro dos casamentos ditos “comuns”. Onde o sujeito após uma certa fase da vida, encontra a mulher “ideal” e os dois resolvem “juntar os trapos”. Não demora muito tempo começam chegar os filhos (às vezes os filhos chegam antes do casamento). Já casados, não sabendo lidar com as etapas comuns de convivência, que são a adaptação, a resiliência, a paciência e doação, partem para uma postura silenciosa e perigosa. Acham que vivendo vidas paralelas conseguem abafar a insatisfação. Então passam a frequentar igrejas, sociedades respeitadas, assumem cargos importantes. As redes sociais são exemplo clássico do “casal lacrado, perfeito”. Quem enxerga a máscara, jamais pode imaginar as mazelas que se escondem na vida particular. Violência doméstica ou psicológica, traição, estupro, a lista é grande. E sempre esconde o mal da Hipocrisia que se espalha como vírus. Às vezes fatal.
Estamos experimentando, de maneira espantosa e crescente, a quebra na imagem de líderes que até então eram inspiração. O caso mais recente do líder tibetano Dalai-lama certamente deixou as já fragilizadas mentes ainda mais confusas. Quem diria que anos de ensinamentos sociais esconderiam um comportamento chocante para a maior parte da sociedade? Será o início do fim do véu da Hipocrisia Social?
Outros líderes também têm experimentado serem “desnudados”, colocando em público suas práticas nada ortodoxas. Na política catarinense estamos observando, de camarote, a prisão de 15 prefeitos, acusados de corrupção. Para quem assistiu a Operação Lava Jato, parece que nada mais espanta.
Onde erramos? Onde começou tudo isso? Alguns diriam ser a herança da colonização portuguesa no Brasil. Outros que é falta de uma ação divina. Mas é inegável que o “jeitinho brasileiro”, que anda lado a lado da Hipocrisia, tem suas raízes profundas na falta de educação. Não só aquela que temos na escola, mas a que está relacionada aos valores sociais, à inteligência emocional. Aliás, não sei ainda por que inteligência emocional não virou matéria obrigatória desde o ensino fundamental.
A Coreia do Sul fez a lição de casa há mais de 50 anos. Quando decidiu investir de verdade em educação. Foi o que chamamos de “ressurgimento das cinzas”, pois o país inteiro estava arrasado pelo pós-guerra. Mesmo sob o pano de fundo dos interesses estadudinenses, é inegável ver o avanço social daquele país em tão pouco tempo. E o Brasil? O que ainda veremos para começar de verdade a investir em educação? Que ainda possamos ser humanos pensantes, para além dos ansiolíticos e toda sorte de drogas controladas e seus efeitos colaterais ainda desconhecidos.
Leandro Schmitz é jornalista e autor do livro “O Dia a Dia em Crônica”. leandro.eros83@gmail.com
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